1 mês de maternidade
- Mico
- 21 de out. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de out. de 2019
1 mês. 30 dias. 720 horas. 43.200 minutos de dor no pulmão e um medo danado do coração rebentar.
Que puta mês insano!
Ser mãe é ser foda.
Ser mãe é reconhecer o próprio limite, respirar fundo e supera-lo.
Com medo, às vezes com ajuda, muitas vezes só na coragem mesmo, em pânico, de coração nas mãos, mas ainda assim tentar.
E às vezes, tantas vezes, a tentativa falha e nunca mais queremos repetir. Mas quando ficamos mães, não tem mais querer ou não querer, passa a valer o “tem que ser”.
Quem achou que ser mãe é aquela foto linda de cabelo esticado, pele maravilhosa, olhos brilhantes e um bebe dormindo no colo, foi vitima de publicidade enganosa e deveria apresentar queixa.
Ser mãe é cansaço, é olheira de 2 níveis e várias tonalidades de roxo e de verde na cara.
Ser mãe é choro, é fralda, é xixi.
É ver a cor do coco a cada fralda.
É ficar feliz com arroto, com pum e até com coco na mão, na sinceridade, é ficar feliz com qualquer gás que não fique preso naquele corpo, porque o gás que ficar preso agora, é o choro de logo à noite.
E aí, ser mãe é cólica, é noite em branco, é choro de dor, que dói nela e mas dói mais em você e nessa hora, ser mãe é mais foda ainda.
Ser mãe é dor na coluna, na lombar e na cervical.
Ser mãe é tendinite, mastite e se for preciso, gripe e até gastrite.
Ser mãe é dormir sentada, por turnos de 1 hora e 42 minutos; às vezes dá para fazer de 1 hora e 56 minutos. Já imaginou a loucura?
Mas se por acaso passar da hora, ser mãe é manchar pijama de leite.
E o lençol. E a almofada. E o soutien.
Ser mãe é ser leite.
Cheiro de leite, mancha de leite, baba de leite.
É dar leite, tirar leite e guardar leite. É subida de leite (alguém já te falou disso?). É massajar o peito e estimular, é mamilo gretado e nódulo no peito... ah e eu cheguei a mencionar as manchas de leite?
Ser mãe é, no cansaço, não saber se deu o direito ou o esquerdo, é estar com tanto sono que vai um qualquer e acordar duas horas depois com o outro em pedra.
Ser mãe é preparar a melhor roupa para a tua filha e esquecer de levar a toalha para se secar ao sair do banho.
É esquecer de fazer xixi e de trocar o penso higiénico.
É se vestir tão rápido que não passa nem creme do rosto nem desodorizante.
É repetir a mesma roupa dia sim, dia não.
Ser mãe é, muitas vezes, não conseguir tomar banho, quanto mais lavar o cabelo.
Ser mãe é comer quando dá.
Entre duas mamadas, entre duas fraldas.
Ser mãe é comer muitas vezes sozinha, uma comida fria, esquentada e raramente comer sentada.
Ser mãe é comer um monte de torrada.
Ser mãe é deixar de ser singular e passar a ser plural.
Não ha mais uma pessoa mas duas.
Ninguém mais nos pergunta por nós mas por nós.
Ninguém mais olha para nós. Todos os olhos hoje estão nestes pequenos humanos.
E nós, só queremos que alguém nos diga: "Eu vejo-te. E vejo todas as tarefas que fazes e que estás a dar o teu melhor. Continua que vai valer a pena. Se precisares estou aqui."
Ser mãe é ninguém te ver todo mundo te dizer o que fazer.
É ouvir um monte de palpite: não pode beber leite, não pode comer feijão, não pode pegar tanto no colo, não pode dormir junto.
Não pode beber laranjada e sumo de manga também não convém.
A criança não pode mamar deitada e não pode arrotar sentada.
Não pode comer salada, não pode comer cebolada e nem bife com cogumelos e natas.
Ela deve estar com fome.
Ela deve estar com cólicas.
Já sei! É da calça: deve estar apertada!
Mas de todas, a melhor pergunta é: “O que que ela tem?!”.
Então… não sei neh? Perguntem-lhe a ela.
Ser mãe é ouvir as maiores absurdidades e manter a calma necessária para não stressar tua cria (ou como dizem “azedar o leite”: tem certeza que teu leite não é fraco? Porque você não dá água? No meu tempo tomavam água. Já experimentou trocar a hora do banho?
Ahhhh... ela está com mimo.
Estás a criar um ser dependente, não pode ser.
Então ‘tá, vou deixar ela lá na cama para ela se trocar, se alimentar e se aconchegar sozinha, porque ela é completamente independente, não é, não?
Quando engravidei, li mais sobre o puerpério do que sobre a gravidez.
Achei que me tivesse preparado bem para o que ia encontrar.
Sabia que ia ser foda, a tal ponto que só estabeleci 4 objectivos para estes 30 dias:
1) Tomar banho todos os dias
2) Lavar os dentes todos os dias
3) Sair do pijama todos os dias
4) Amamentar.
E deu certo. Todos os dias. Mas na dureza.
E ainda assim, achamos que se fez tão pouco.
Em 30 dias senti coisas que nunca pensei sentir e todas ao mesmo tempo.
Senti felicidade, gratidão, paixão, muito amor, mas também senti dor, tristeza, culpa, raiva, culpa, vergonha, culpa, cansaço, desespero, culpa, depressão, incompreensão, culpa, arrependimento, melancolia, culpa, angústia, remorsos, angústia...
Foram dias emendando nos outros, uns bons, alguns maus outros muito maus.
Ser mãe é ser foda. Ser mãe é reconhecer o próprio limite, respirar fundo e supera-lo. Ser mãe é ser louca o suficiente para apesar de tudo, amar, amar e amar.

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